quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

uma história de confeitos.

Meus pés já estavam doendo de tanto correr pela floresta. Os galhos das árvores batiam em meu rosto tentando impedir a minha fuga, mas eu não parava de correr. Não sei ao certo do que estava fugindo, apenas sabia que não podia olhar para trás. Passei a mão no meu rosto para retirar o resquício de insetos que, no impacto contra minha pele, perderam o resto do corpinho minúsculo, mas nunca parando de correr. De repente, senti meu corpo mais leve e meus pés pararam de latejar. Senti uma brisa gostosa levantando meus cabelos enquanto sentia um frio na barriga diferente. Olhei para meus pés e não havia chão. Tentei gritar mas minha voz não saia, fiquei muda ao pensar que ao cair espatifaria em vários pedacinhos no chão. Fechei os olhos com força ao ver a claridade do final daquele túnel quase que infinito, e tentei pensar em coisas boas para morrer feliz. Mas de repente, meu corpo sofre um impacto com uma estrutura molenga e com cheiro de morango. Meu corpo ficou pulando por alguns segundos até a gravidade estabelecer um controle sobre meu corpo e aquela massa cor de rosa transparente gigante. Olhei ao meu redor e só via aquela cama gigante de - "gelatina!" - gritei ao provar um pedacinho. Corri com dificuldade até a ponta da grande montanha gelatinosa e com um pulo escorreguei até o chão. estava tudo verde em volta, a grama tinha uma tonalidade bem viva, cheguei com meu rosto mais perto para sentir o aroma - mas o que é isso?! - perguntei pegando uma folha verde limão e mastiguei. A grama tinha gosto de chiclete de menta, e sua textura era daquelas folhas bem fininhas que quando encostadas na língua se dissolvem  em segundos. Olhei maravilhada para o resto do campo e avistei uma cidadezinha no final do horizonte. Comecei então a caminhar em direção a pequena civilização. E enquanto andava, catava mais algumas folhinha de grama para comer no caminho.
Ao chegar a pequena cidade meus olhos brilharam, as ruas eram feitas de biscoito negresco e tinha aroma de confeito, os postes eram feitos de pirulitos coloridos e os bancos eram de balas de açúcar. As maçãs das árvores eram cobertas por caramelo e seus troncos feitos de chocolate ao leite. As paredes das casas eram feitas de massa de bolo e os telhados de casquinha de sorvete. Enquanto olhava toda aquela cidade cheia de doces e confeitos, pensava por onde começar, qual seria a primeira degustação, se eu levaria alguma coisinha para casa ou viveria naquele lugar para sempre... Enquanto refletia escutei um barulho estranho, como de um trovão, mas dei de ombros e ergui o braço para arrancar uma das grandes maçãs carameladas que estavam a espera da minha degustação. Vagarosamente fui levando a maçã até a boca e quando estava prestes a morder o barulho surgiu novamente, porém mais forte. Olhei para o céu então, e uma grande quantidade de nuvens negras de algodão doce chegavam em minha direção. O vento forte fez com que um granulado caísse em meus olhos. Esfreguei-os e olhei para o céus mais uma vez, senti uma gota cair em minhas bochechas rosadas, passei o dedo indicador na gotinha e levei-a até boca - chocolate, que delícia - foi o que pensei, até ver a cachoeira de chocolate que vinha em minha direção. Rapidamente, peguei um pedaço grande do telhado de uma das casinhas e comecei a surfar entre as ondas gigantescas de chocolate. Os trovões não paravam, pelo contrário, ficavam ainda mais intensos. Eu avistei no meio do mar de chocolates um pedaço de um dos postes de pirulito e fiz dele meu remo, mas aos poucos o chocolate foi se esquentando e derreteu o açúcar colorido. A casquinha de sorvete onde estava sentada começou a amolecer e o chocolate começou a entrar em meu barquinho improvisado. Tentei gritar, mas a minha voz  falhou novamente. Apertei os olhos e segurei a respiração, preparando-me para mergulhar naquela maré descontrolada, porém, uma gota quente do chocolate caiu sobre meu nariz e o susto fez com que eu abrisse os olhos rapidamente. estava deitada no sofá da casa da minha avó e minha barriga roncava mais do que o normal, um barulho tão traumatizante quanto daqueles trovões vindos de algodões doces assassinos.
-Filhinha, tem sorvete de creme para comer com calda de choc...
-NÃO! - saí correndo pelo jardim antes que seja tarde, e sem olhar para trás.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Papai Noel

Você já teve um melhor amigo? Quando eu tinha cinco anos sempre quis ter um melhor amigo, um que brincasse comigo de lutinha e que ele não me deixasse ganhar fácil para eu ficar esperta nas brigas com meu irmão. Meu sonho era ter um melhor amigo que depois que brincássemos de boneco ou lego, saíssemos para dar uma volta e brincar de floresta no meio da rua, ou correr com a língua pra fora até o vento seca-la quase que totalmente. Eu desejava todas as noites por esse melhor amigo. Uma vez, era véspera de natal, e eu pedi um melhor amigo à você, mas acho que você não entendeu muito bem o meu pedido, e no lugar de um melhor amigo você me mandou um boneco de plástico que falava "Barbie, eu te amo" quando apertava sua barriga, e cantarolava uma canção - acredito eu que era pra Barbie também. No meu aniversário eu não ganhei meu melhor amigo, e nem mesmo um presente. Meu irmãozinho estava nascendo e todos foram para o hospital, meu irmão mais velho falou que os médicos tinham que fazer a mamãe dormir para cortar a barriga toda dela pro meu irmão nascer, mas era mentira dele, a mamãe disse que ela é muito elástica e meu irmão chegou muito rápido pra dar tempo dela dormir, ainda bem não acha? Que mãe é tão maluca ao ponto de dormir antes de ver seu filho chegar? Ele deve fazer uma viagem tão grande pra chegar até ela que no mínimo ela deveria estar acordada para recebe-lo. Bem, o outro natal chegou e eu pedi novamente um melhor amigo, e dessa vez, você me deu um boneco de plástico igual ao outro, mas esse era do meu tamanho e andava como um robô por toda a casa, e falava mais de cinco frases diferentes. É, você quase acertou dessa vez.
Como meu irmãozinho nasceu no meu aniversário, nossas duas últimas comemorações foram juntas, qualquer outra garota cheia de amigos na minha idade odiaria, mas, eu até que gostei. Em uma das festas eu me escondi de baixo da mesa junto com o meu irmão para roubarmos docinhos da mesa do parabéns, fora a primeira vez que ele comia brigadeiro, no final do dia ele fez tanto coco que a casa fedia da cozinha até o meu quarto, mas ele precisava descobrir o gostoso de fazer aniversário. Depois que ele nasceu tudo ficou mais divertido lá em casa, meu irmão mais velho até brinca com a gente! É tão divertido construir cidades enormes de lego, tudo bem que nós morremos de preguiça de arrumar depois toda aquela bagunça e pior ainda quando sobra apenas pra nós dois mais velhos porque nosso irmãozinho dorme em cima das pecinhas, mas é divertido mesmo assim.
Bem, agora eu tenho que ir, a mamãe nos deu umas roupas camufladas agora de natal para mim e para meu irmãozinho, e nós vamos brincar lá fora, não é divertido? Eu não pedi nada pra você dessa vez, você deve ter trabalho demais com os pedidos malucos de outras crianças que querem aquele bando de bonecas plastificadas e sem vida, com certeza o meu pedido foi o mais difícil, mas o mais gostoso de se realizar.
Aaah, eu preciso ir mesmo, o Biel subiu em uma árvore! Ai meu Deus, é maluco... Ele nem me esperou safado!
                                                                                                                                  Beijos Na.
ps: obrigada pelo melhor amigo, vamos brincar até cansar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

noite de hotel

Estava deitada em minha cama escrevendo em meu novo caderno de anotações enquanto observava a respiração de meu primo dormindo de boca aberta ao meu lado quando um barulho estranho começou a soar. Olhei para os lados e nada de diferente acontecia, apenas aquele barulho irritante em meus ouvidos. Levantei-me e fui até a sala do apart-hotel. - "Ah claro! É o treinamento de incêndio... Mas eles tinham que ligar isso justo nesse horário da noite?" - Questionei-me lembrando do aviso que eles haviam mandando para meus tios de manhã. - "Atenção, isso não é um treinamento" - foi a única frase que prestei atenção naquele monte de palavras rápidas em inglês que surgiam de um pequeno aparelho no meio do apartamento. AAAAH, vocês podem imaginar o meu sentimento de pânico? Eu estava sozinha com meu pequeno primo enquanto meus tios faziam compras no supermercado e todas as outras crianças estavam no apartamento ao lado com a baba! Eu então corri de volta para o quarto e abri a porta com força, meu primo já estava sentado com os olhos mais abertos do mundo - "não se preocupe amorzinho, venha cá" - peguei-o no colo tentando ser a pessoa mais calma do mundo. 


Com uma criança de cinco anos de idade nos braços, sai correndo em direção a porta, escancarando-a e correndo pelo corredor - "bosta! Não tenho o cartão do quarto! Vamos ficar de fora!" - pensei dando meia volta e correndo com uma velocidade ainda maior para chegar a porta antes que ela se fechasse. 


Com um chute, abri a porta rapidamente e na mesma velocidade peguei uma cadeira e coloquei-a entre a porta e a parede, evitando que ela se fechasse. Voltei-me a correr pelo corredor, o cheiro de queimado incendiava o segundo andar todo. Voltei os olhos para a janela e vi os outros hóspedes correrem para o jardim, uns de trajes de banho, outras de toalha, umas com bobs na cabeça, e eu me juntava aos que estavam de pijama. 


Chegando próxima a escada, escutei muitos pequenos passos rápidos, e em questão de segundos várias crianças corriam em minha direção, umas rindo, outras gritando, outra chorando, mas todas espivitadinhas demais para o meu gosto. Os bombeiros chegaram, e enquanto tudo isso acontecia e todos os hóspedes estavam já no andar de baixo do hotel, eu escutava a grande história de como sete crianças queimaram um pão no microondas por ter colocado dez minutos no lugar de um.