segunda-feira, 4 de abril de 2011

pequena manhã de luz.

Era dia 21 de agosto, uma quarta-feira como qualquer outra. Eduardo levantou-se cedo aquela manhã e, de pijamas, foi preparar suas duas torradas integrais e seu café com leite para começar mais um dia cansativo de trabalho.  Enquanto comia, lia as notícias do dia no Jornal de São Paulo, e não se surpreendeu com as trágicas reportagens; diferentes políticos, as mesmas corrupções, os mesmos países, as mesmas bombas, diferentes guerras, os mesmos resultados.
Caminhou lentamente até o banheiro, tomou um rápido banho e depois colocou seu mais clássico terno preto, com uma blusa branca e uma gravata listrada. Arrumou a cama e saiu para o trabalho pontualmente, como de costume.
Enquanto enfrentava o terrível transito do centro da cidade, Eduardo pensava no tempo que estava perdendo para terminar o processo da impressa que deveria ser entregue naquele mesmo dia. Suspirou fundo, olhou para a maleta e pegou um cigarro de dentro do macho novo que estava guardado no bolso externo, acendeu-o, abriu a janela, e com uma profunda tragada virou os olhos para o carro parado ao seu lado. Um Gol preto, não muito interessante. Eduardo levantou os olhos até a janela aberta da porta traseira do pequeno carro.
Um garotinha de cabelos negros e grandes olhos azuis o observava com dificuldade através da janela meio aberta. Nesse momento, o rosto rígido e enrugado de Eduardo se tornou imóvel com tamanha semelhança aquela garotinha tinha com sua filha. Ela continuava a observa-lo com seus grandes olhos e seguia o movimento que o cigarro fazia em sua mão para chegar até sua boca.
A mão do homem começou a tremer e o cigarro caiu no asfalto. O sinal vermelho tornou-se verde e Eduardo olhou para a menina mais uma vez, ela, olhando-o nos olhos abriu-lhe um largo sorriso que lhe estremeceu a alma, aquele fora o primeiro sorriso sincero que recebera após a morte de sua filha Isabel. Após aquela cena, ele continuou a dirigir em direção ao trabalho. E naquele instante, ele decidiu que aquele dia não seria como os outros, e pôs-se a sorrir também.

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